sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Pesquisa da Unesp revela aquecimento em cidades médias



Aquecimento de cidades médias é consequência
da urbanização. Foto: Mauro de Oliveira.
Comum nas grandes cidades, o fenômeno das ilhas de calor – caracterizado pelo surgimento de áreas com temperaturas mais elevadas e menor umidade do ar – atinge também cidades médias do interior paulista, segundo aponta pesquisa da Universidade Paulista (Unesp), divulgada em agosto deste ano.

Durante a estação mais fria do ano, os casacos nem sempre deixam o armário. “Em Bauru, está muito difícil usar casaco”, diz a bancária Emanuelle Santos. “As pessoas preferem as roupas mais frescas, mesmo quando chega o inverno”, relata. A diferença sentida por Emanuelle e outros moradores do interior paulista foi analisada por pesquisadores da Unesp, cujo levantamento em 14 cidades do interior paulista concluiu que, nos últimos 49 anos, as ilhas de calor foram responsáveis pelo aumento na temperatura. “De uma forma simplificada, as ilhas de calor são áreas que apresentam um aumento da temperatura da superfície quando comparadas com as temperaturas observadas nas áreas de contorno”, explica o geógrafo Thiago Carnavale.

O meteorologista do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio de Janeiro (Crea/RJ) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Alfredo Silveira, explica que as ilhas de calor não decorrem de causas naturais, mas formam-se principalmente devido à expansão das atividades industriais, desmatamento, obras de engenharia – que passam a ocupar espaços com grandes construções – e alterações de ruas e avenidas recobertas com asfalto, que tem grande capacidade de absorção de calor e impedem o escoamento das águas das chuvas, promovendo grandes enchentes. “Essas combinações e a falta de planejamento adequado são os responsáveis por este fenômeno climático, que, por sua vez, influencia no clima local”, esclarece o especialista.

No entanto, as consequências das ilhas de calor são comumente confundidas com a chamada inversão térmica – esta, sim, um fenômeno natural. Trata-se do modo como a atmosfera se comporta em determinadas ocasiões e ocorre quando uma camada de ar quente se sobrepõe a uma camada de ar frio, impedindo que este suba. “O ar abaixo dessa camada fica mais frio, portanto, mais pesado, impedindo a dispersão dos poluentes que se mantêm próximos da superfície, criando uma camada estratificada em forma de névoa sobre a cidade”, esclarece o meteorologista Alfredo Silveira. Segundo ele, esse fenômeno é mais comum no inverno e é responsável por uma série de danos à saúde, como irritação nos olhos, náuseas, dores de cabeça e até mesmo bronquite e agravamento de doenças cardíacas.

Evitar o desmatamento e aumentar as áreas verdes são ações que podem reduzir os efeitos nocivos das ilhas de calor e da inversão térmica. Além disso, “os governantes devem estar conscientes da importância do planejamento urbano-ambiental, proporcionando aumento da fiscalização e garantindo o cumprimento das leis ambientais no país”, finaliza o geógrafo Thiago Carnavale.

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